08 setembro 2012

RESENHA: O Retrato de Dorian Gray




"Eu gostaria de ser capaz de amar. Mas parece que perdi a paixão, que esqueci o desejo. Estou muito concentrado em mim mesmo. Minha própria personalidade tornou-se um fardo para mim "

A Obsessão pode se desenvolver em vários níveis, para Dorian Gray ela se pintou em um auto retrato feito por seu colega Basil Hallward. Dorian se tornou para o jovem pintor fonte de inspiração , ideal de beleza colocando muito de si mesmo na sua obra prima – o retrato de Dorian Gray -  há nesta passagem um amor platônico de Basil pela sua fonte de inspiração.  A serpente no paraíso da admiração de Basil é Lord Henry;  um aristocrata hedonista, grande amigo de Basil, fica encantado pela ingenuidade e curiosidade de Dorian. Acaba por seduzir o jovem para sua filosofia de vida; a busca da beleza e do prazer imediato.




O retrato depois de finalizado virou uma faca de dois gumes para o influenciável Dorian; no retrato constatou que realmente era bonito, um ideal de beleza , uma obra de arte, porém sob efeito da filosofia de Henry:

“Quando a mocidade passar, a sua beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado tornará mais amargas que destroçadas".

Dorian percebe que a imagem real não será eterna, e o retrato ficará para sempre intocável, jovem.  O quadro fica sendo um segredo que Dorian tenta a todo custo esconder da sociedade.  Se apaixonou pela  pobre atriz Sibyl Vane,  da qual Dorian achou a prefeição a primeira vista. Logo se apaixonou, e logo teve o desencanto. Com a paixão a jovem moça passou a atuar de uma forma diferente da usual, fracassando em um dos seus espetáculos. O “amor” é vazio e logo Dorian a abandona (Sibyl decepcionada por ver o sonho de ir embora da companhia de teatro e ser feliz,  se suicida).

A partir desse acontecimento cada passo em falso e a cada ato falho de Dorian o retrato se transforma. Como uma consciência o retrato mostra a degradação da alma de Dorian ao realizar atos irresponsáveis, e a se corromper por meio das más influências.  O que aliás é um dos pontos interessantes do livro; O que podemos fazer  (ou nos tornar) diante de influências, sejam estas boas ou más?  E mais o quão influenciáveis somos diante de uma sociedade de aparências, que exigem o melhor, a perfeição de cada um? Eis boas reflexões! A sociedade ainda conserva aspectos hedonistas, onde pintamos um retrato que por vezes não é o real para sermos  aceitos.

Oscar Wilde, quase foi a fogueira junto com os escritos por ter relacionado elementos criticos a sociedade da época neste fantástico romance. Dentre os temas polêmicos está o homoerotismo. E também por propor uma reflexão sobre o decandentismo da sociedade e explicar como um ser se vilaniza por influência dos ideais que lhes são apresentados.

Você poderá não gostar de:

Do Filme! A adaptação feita para o cinema em 2009 (Dorian Gray), segue a linguagem visual da série crepusculo (nada contra, caro leitor). Protagonista idolo teen, referências a obra (dizem que é uma adaptação), caráter sombrio . Porém muito do texto original da obra  foi alterado, e recorreu a temáticas  desnecessárias; sangue, orgias, sangue, Dorian morto em um incêndio, sangue, enfim  distorceu a obra original (Fiz uma resenha do “filme” no meu blog). Assisti depois de ler o livro , e me decepcionei.  O livro é bem melhor (há novas edições bilingues que caem bem na sua estante) , com linguagem acessível e descrições fantásticas, além do enredo original sem fantasias. Cheio de citações ressalto  esta bela  passagem que retrata um amanhecer:

"Poucos de nós foram os que ainda não acordaram antes do alvorecer, quer depois daquelas noites sem sonhos que quase nos deixam enamorados da morte [...] Dedos alvos, graduais, sobem pelas cortinas e parecem tremer. Em formas fantásticas, negras, sombras opacas rastejam para os cantos do aposento, e ali se põem de tocaia. Lá fora o farfalhar dos pássaros entre as folhas, ou o ruído de homens indo para o trabalho ou o suspiro e o soluço do vento descendo pelas colinas, vagando pela casa silenciosa, como se temesse acordar os que dormem, embora a necessidade deva despertar o sono em sua gruta púrpura. 

Cada véu da gaze rala, penumbrosa, é levantado, e, em gradações, as formas das cores são restituídas, e observamos o alvorecer refazer o mundo em seu padrão antiquado. Os espelhos exangues retomam a vida mímica. As candeias sem chamas lá estão onde as deixamos; ao lado delas, repousa o livro, marcado na metade, que estudávamos, ou a flor aramada que usamos no baile,ou a carta que receamos ler,ou que lemos com muita frequência. Nada nos parece alterado.

Das sombras irreais da noite ressurge a vida real que conhecemos. Temos que retomá-la onde saltamos, e, sobre nós, paira furtiva a sensação terrível da necessidade de continuação da energia naquela mesma roda maçante dos hábitos estereotipados, ou um devaneio espontâneo, quem sabe, que nos abra as pálpebras, numa certa manhã,para um mundo remodelado na escuridão, todo novo, para o nosso prazer[...] um mundo em que o passado teria um lugarzinho ou lugar nenhum,ou não sobreviveria em qualquer forma de obrigação ou remorso, já que a reminiscência, até mesmo da alegria, contém amargura e as lembranças do prazer, dor."

Eis tudo.




5 comentários:

  1. Olá, acabei de ler sua resenha aqui, tentei escrever como comentário tudo o que pensei á respeito de alguns erros ou assuntos esquecidos do livro e do filme que resolvi postar no meu blog como Crítica de Resenhas, bom, gostaria que conferisse o que comentei de sua resenha.

    http://zumbitv.blogspot.com.br/2012/09/critica-da-resenha-de-edivaldo-gomes-o.html

    P.s: o seu blog ja está de parceria no meu :]

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  2. Não me agrada nada quando um livro vai para as telinhas e tem seu enredo mudado completamente, nunca me interesse pelo Retrato de Dorian Gray, acho que não faria a leitura, e sabendo que o filme foge ao livro, provavelmente também não assistirei.

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  3. Aff, é frustrante quando o filme não consegue ser fiel ao livro ou que simplesmente corta detalhes essenciais!

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  4. Uau, fiquei chocada por o autor quase ter ido a fogueira por causa do romance!!! Que pena que o filme não foi tão bom quanto o livro né...

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  5. O ator principal é muito bonito, mas definitivamente gostei do romance como nenhum. Também me lembrou da série recém-lançado chamado Penny Dreadful, uma história que lida com a origem de personagens literários clássicos como Dorian Gray e Dr. Frankenstein, a verdade é muito bom.

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