"Eu gostaria de ser capaz de amar. Mas parece que perdi a paixão, que
esqueci o desejo. Estou muito concentrado em mim mesmo. Minha própria
personalidade tornou-se um fardo para mim "
A Obsessão pode se desenvolver em
vários níveis, para Dorian Gray ela se pintou em um auto retrato feito por seu
colega Basil Hallward. Dorian se tornou para o jovem pintor fonte de inspiração
, ideal de beleza colocando muito de si mesmo na sua obra prima – o retrato de
Dorian Gray - há nesta passagem um amor platônico de Basil pela sua
fonte de inspiração. A serpente no paraíso da admiração de Basil é
Lord Henry; um aristocrata hedonista, grande amigo de Basil, fica
encantado pela ingenuidade e curiosidade de Dorian. Acaba por seduzir o jovem
para sua filosofia de vida; a busca da beleza e do prazer imediato.
O retrato depois de finalizado
virou uma faca de dois gumes para o influenciável Dorian; no retrato constatou
que realmente era bonito, um ideal de beleza , uma obra de arte, porém sob
efeito da filosofia de Henry:
“Quando a mocidade passar, a sua
beleza ir-se-á com ela; então o senhor descobrirá que já não o aguardam
triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado
tornará mais amargas que destroçadas".
Dorian percebe que a imagem real
não será eterna, e o retrato ficará para sempre intocável, jovem. O
quadro fica sendo um segredo que Dorian tenta a todo custo esconder da
sociedade. Se apaixonou pela pobre atriz Sibyl
Vane, da qual Dorian achou a prefeição a primeira vista. Logo se
apaixonou, e logo teve o desencanto. Com a paixão a jovem moça passou a atuar
de uma forma diferente da usual, fracassando em um dos seus espetáculos. O
“amor” é vazio e logo Dorian a abandona (Sibyl decepcionada por ver o sonho de
ir embora da companhia de teatro e ser feliz, se suicida).
A partir desse acontecimento cada
passo em falso e a cada ato falho de Dorian o retrato se transforma. Como uma
consciência o retrato mostra a degradação da alma de Dorian ao realizar atos
irresponsáveis, e a se corromper por meio das más influências. O que
aliás é um dos pontos interessantes do livro; O que podemos fazer (ou
nos tornar) diante de influências, sejam estas boas ou más? E mais o
quão influenciáveis somos diante de uma sociedade de aparências, que exigem o
melhor, a perfeição de cada um? Eis boas reflexões! A sociedade ainda conserva
aspectos hedonistas, onde pintamos um retrato que por vezes não é o real para
sermos aceitos.
Oscar Wilde, quase foi a fogueira
junto com os escritos por ter relacionado elementos criticos a sociedade da
época neste fantástico romance. Dentre os temas polêmicos está o homoerotismo.
E também por propor uma reflexão sobre o decandentismo da sociedade e explicar
como um ser se vilaniza por influência dos ideais que lhes são apresentados.
Você poderá não gostar de:
Do Filme! A adaptação feita para
o cinema em 2009 (Dorian Gray), segue a linguagem visual da série crepusculo
(nada contra, caro leitor). Protagonista idolo teen, referências a obra (dizem
que é uma adaptação), caráter sombrio . Porém muito do texto original da
obra foi alterado, e recorreu a temáticas desnecessárias;
sangue, orgias, sangue, Dorian morto em um incêndio, sangue, enfim distorceu
a obra original (Fiz uma resenha do “filme” no meu blog). Assisti depois de ler
o livro , e me decepcionei. O livro é bem melhor (há novas edições
bilingues que caem bem na sua estante) , com linguagem acessível e descrições
fantásticas, além do enredo original sem fantasias. Cheio de citações ressalto esta
bela passagem que retrata um amanhecer:
"Poucos de nós foram os que ainda
não acordaram antes do alvorecer, quer depois daquelas noites sem sonhos que
quase nos deixam enamorados da morte [...] Dedos alvos, graduais, sobem pelas
cortinas e parecem tremer. Em formas fantásticas, negras, sombras opacas
rastejam para os cantos do aposento, e ali se põem de tocaia. Lá fora o
farfalhar dos pássaros entre as folhas, ou o ruído de homens indo para o
trabalho ou o suspiro e o soluço do vento descendo pelas colinas, vagando pela
casa silenciosa, como se temesse acordar os que dormem, embora a necessidade
deva despertar o sono em sua gruta púrpura.
Cada véu da gaze rala,
penumbrosa, é levantado, e, em gradações, as formas das cores são restituídas,
e observamos o alvorecer refazer o mundo em seu padrão antiquado. Os espelhos
exangues retomam a vida mímica. As candeias sem chamas lá estão onde as
deixamos; ao lado delas, repousa o livro, marcado na metade, que estudávamos,
ou a flor aramada que usamos no baile,ou a carta que receamos ler,ou que lemos
com muita frequência. Nada nos parece alterado.
Das sombras irreais da noite
ressurge a vida real que conhecemos. Temos que retomá-la onde saltamos, e,
sobre nós, paira furtiva a sensação terrível da necessidade de continuação da
energia naquela mesma roda maçante dos hábitos estereotipados, ou um devaneio
espontâneo, quem sabe, que nos abra as pálpebras, numa certa manhã,para um
mundo remodelado na escuridão, todo novo, para o nosso prazer[...] um mundo em
que o passado teria um lugarzinho ou lugar nenhum,ou não sobreviveria em
qualquer forma de obrigação ou remorso, já que a reminiscência, até mesmo da
alegria, contém amargura e as lembranças do prazer, dor."
Eis tudo.
Olá, acabei de ler sua resenha aqui, tentei escrever como comentário tudo o que pensei á respeito de alguns erros ou assuntos esquecidos do livro e do filme que resolvi postar no meu blog como Crítica de Resenhas, bom, gostaria que conferisse o que comentei de sua resenha.
ResponderExcluirhttp://zumbitv.blogspot.com.br/2012/09/critica-da-resenha-de-edivaldo-gomes-o.html
P.s: o seu blog ja está de parceria no meu :]
Não me agrada nada quando um livro vai para as telinhas e tem seu enredo mudado completamente, nunca me interesse pelo Retrato de Dorian Gray, acho que não faria a leitura, e sabendo que o filme foge ao livro, provavelmente também não assistirei.
ResponderExcluirAff, é frustrante quando o filme não consegue ser fiel ao livro ou que simplesmente corta detalhes essenciais!
ResponderExcluirUau, fiquei chocada por o autor quase ter ido a fogueira por causa do romance!!! Que pena que o filme não foi tão bom quanto o livro né...
ResponderExcluirO ator principal é muito bonito, mas definitivamente gostei do romance como nenhum. Também me lembrou da série recém-lançado chamado Penny Dreadful, uma história que lida com a origem de personagens literários clássicos como Dorian Gray e Dr. Frankenstein, a verdade é muito bom.
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